Nasci e cresci em Araucária. Comecei a fazer teatro no Teatro da Praça quando tinha uns 12 ou 13 anos e fiz da arte e da cultura minha profissão. Acredito que o contato com a arte crie seres humanos mais capacitados para a vida. O contato com as linguagens artísticas pode ser tão importante para o desenvolvimento profissional quanto aprender uma língua estrangeira. Só a arte e a filosofia negociam com a complexidade da vida, que vai muito além de sim ou não, de certo ou errado, ou de esquerda e direita. O fato é que estamos em uma bola (sim, não acredito que a terra seja plana) solta no espaço e nascemos, crescemos e morremos. Isso pode ser muito assustador se não tivermos ao que nos apegar. E como não quero oprimir ninguém, nem obrigar ninguém a acreditar no que acredito, uso a arte como recurso para tentar manter minha sanidade. Produzo textos, cenas, vídeos, performances, sempre com a intensão de dizer ao outro que ele não está sozinho e assim aplacar um pouco a minha própria solidão. Para mim a arte é isso: um veículo para que eu grite ao mundo que também tenho medo, que também sinto um vazio imenso de vez em quando, que também sinto uma alegria tão intensa as vezes que parece que meus pés deixam de tocar o chão.
Mas eis que um dia eu participei
de uma palestra que não falava de pessoas, mas falava de cidades. Cidades
vivas, pulsantes, cheias de energia humana. Cidades que valorizavam suas singularidades:
sua gastronomia, a arquitetura de suas casas, suas festas e eventos, seus
artistas, sua história. E que além de conseguirem fazer com que seus habitantes
tivessem orgulho de pertencerem a aquele lugar, ainda atraiam outras pessoas
que consumiam ali, que queriam trazer mais pessoas para conhecer aquelas cidades
tão únicas no mundo.
Aí eu resolvi estudar sobre o
assunto e percebi que o desenvolvimento de um território no século XXI precisa
ir além das estruturas, precisa valorizar o que de humano existe ali, foi então
que voltando os olhos para Araucária percebi que embora bem bonitinha, ela anda
vazia de significado. Ninguém nos conta nossa história, não sabemos quem são
nossos artistas, nossa arquitetura anda meio “qualquer coisa”, já não
comemoramos mais nada, e nos finais de semana as pessoas passam pela BR para
irem até a Lapa. Araucária volta a ser apenas uma passagem como foi no tempo de
Dom Pedro II.
Uma cidade sem alma. Parece um
boneca, linda pra ficar ali no canto, enquanto o mundo dialoga com as garotas
de verdade.
Lembrando que as leis que nos
regem dizem que é um direito da população uma cidade viva, além de bonita, e
que é obrigação do poder público administrar para garantir o acesso à cultura,
aos bens simbólicos, aos patrimônios materiais e imateriais, porque ninguém
ocupa essa bola aqui só pra trabalhar, andar de ônibus e dormir. Uma pessoa
nasce para viver, sentir e se encantar. Mas cadê a alma da nossa cidade?!
E será para falar sobre arte,
cultura e humanidades que estarei por aqui uma vez por mês. Quem sabe juntos
possamos descobrir aonde estão as singularidades dessa nossa pobre menina rica
chamada Araucária. Até breve.
Este texto é de responsabilidade do autor/da autora e não reflete necessariamente a opinião do Matéria Pública.
Adorei! Adoro pensar as cidades que pensam e falam (ou não...)
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