2022: Uma Odisseia à Brasileira

(Foto: Divulgação)

Chegamos a outubro de 2021 e, pasmem, daqui 1 ano teremos novas eleições para Presidente, porém a odisseia já começou. O que em 2018 parecia impossível, aconteceu: Lula está no páreo contra Bolsonaro. Porém, a batalha não se resume aos dois, existem outras opções. E aqui cabe perguntar: qual a viabilidade de uma terceira opção?

Quando se olha para as pesquisas eleitorais, parece ser difícil imaginar um cenário sem Lula e Bolsonaro num segundo turno. O Petista nada de braçada, batendo 40% facilmente em todos os cenários. Bolsonaro, por sua vez, caiu na aprovação popular, permanecendo com seus 25% de forma sólida. Os opositores, vem em seguida, sendo Ciro e Moro os únicos a atingirem 2 dígitos com frequência. Dória, Mandetta, Datena e Amoêdo variam, não passando de 6%.

O raciocínio lógico é um só: para construir alternativas à dicotomia “Lula x Bolsonaro”, o cenário deve ser enxuto, com poucas candidaturas fortificadas por alianças. Entretanto, este movimento ainda parece primário. Ciro Gomes, iniciou uma costura com Datena, embora, não parece ter uma sinergia que traga um grande volume de votos – ao contrário, é capaz de perder votos de centro-esquerda. Sérgio Moro, por sua vez, está ventilando uma chapa com Amoêdo e pode ser uma construção eleitoralmente interessante, pois pode atrair eleitores eventuais de Doria, Mandetta e Datena e ajudar no enxugamento da base de Bolsonaro. Todavia, em nenhum dos cenários as chapas aparentam ter mais de 15%. Se porventura alguma chapa ficar próxima dos 20%, aí o ponto de partida para ultrapassar Bolsonaro pode não ser tão ruim, mas abaixo disso e, com alta fragmentação, ocorrerá uma pulverização de votos levando Lula e Bolsonaro a um eventual segundo turno.

Para tentar compreender as razões para este baixo rendimento dos opositores, é preciso analisar o cenário atual: Ciro demonstra estar perdido em sua retórica, pois quer ser opção para o eleitor antipetista, movimento que muitas vezes é barrado por seu histórico de cooperação com o PT. Já Sérgio Moro, não apresentou nenhuma estratégia até o presente momento. Sofreu um severo desgaste após o rompimento com o Governo Bolsonaro e, após a liberação de Lula, parte da população também rejeitou seus métodos. Esse “combo”, levou Moro a uma derrocada e, atualmente, vive somente da projeção de seu maior personagem: o paladino da justiça. Amoêdo, apesar de demonstrar um discurso mais conciliador entre opositores, não consegue ter liderança nem no partido que fundou, sendo que, talvez, lhe resta: tomar as rédeas do Novo como um cacique ou ir para outro partido. Por fim, Dória colhe os frutos de uma campanha eleitoral oportunista em 2018 marcada por um discurso radicalmente anti-esquerda e tentando a todo custo se associar a Bolsonaro. A associação deu certo, mas tão certo, que até hoje é difícil esquecer o famigerado “BolsoDoria” que, com o rompimento entre os dois, colocou o governador num ambiente eleitoral menos vantajoso. Datena é o clássico outsider, que sequer apresentou suas reais propostas. Os demais candidatos (Mandetta, Eduardo Leite, Alessandro Vieira etc.) são bem desconhecidos e não devem fazer mais que 3% dos votos, caso algum se candidate.

De forma geral, até o momento, não há uma terceira alternativa com pujança eleitoral para bater de frente com Lula e Bolsonaro. Ademais, cabe dizer, o bloco “nem um, nem outro” tem ajudado a perpetuar a ideia de que ambos são as únicas opções reais, pois quando se diz que não é fulano, nem ciclano, cabe perguntar: quem é beltrano? Sem a construção de um nome viável, parece que o discurso fica perdido e sem um sentido prático. Em outras palavras, na política o tal do “fale bem, fale mal, mas falem de mim” ajuda a perpetuar certas ideias e nomes na boca do povo. Bolsonaro, inclusive, ganhou muito com isso entre 2011 e 2018. Diante de tal cenário, não ter um nome já consolidado um ano antes das eleições é no mínimo uma jogada muito arriscada e contraproducente.

Alguns batem na mesma tecla a algum tempo: moralidade e combate à corrupção, porém não demonstram construir um real projeto político de nação, ficam somente na bravata. Este discurso, além de ser só uma pregação para convertidos, não dialoga com o cidadão que está sofrendo com o atual governo: o pobre. Para chamar a atenção da população é necessário pensar algo que vá além desse discurso em específico. Precisa pensar o macro, debater grandes temas, fazer críticas mais sólidas, o que neste momento é pouco feito por uma parcela deste grupo – afinal, é um discurso nichado para a classe média enquanto as classes mais baixas querem políticas que lhe garantem emprego e comida no prato. E aqui, cabe fazer uma observação: Lula domina este discurso. Ele tem total tranquilidade em conectar-se com as massas e falar o que a pessoa pobre quer ouvir: quem tem fome, tem pressa. Em síntese, não constroem uma comunicação interessante com a parcela mais necessitada e ainda deixam o líder das pesquisas surfar uma onda que ele sempre dominou.

A verdade, gostem ou não, é que esta fragmentação de nomes desconhecidos, jogados ao vento, com várias “narrativas” contraditórias e com cálculos políticos péssimos, só colaboram para consolidar Lula e Bolsonaro como os grandes players do jogo. Se ainda querem fugir do “bolsopetismo”, devem trabalhar de forma mais racional e pragmática, pois o caminho que está sendo traçado não é o mais prudente e sim, o mais tenebroso.

Texto de Pedro Felipe Silva com coparticipação de Vitor Pimenta Gomes de Souza, Graduado (Uninter) e Mestrando (UFPR) em Ciência Política, integrante do Laboratório de Partidos Políticos e Sistemas Partidários (LAPeS), editor e revisor da Revista Sociologia e Política.

Este texto é de responsabilidade do autor/da autora e não reflete necessariamente a opinião do Matéria Pública.

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