A Natura e o Dia dos Pais: A idiocracia do conservadorismo

Por Eduardo Schamne

(Foto: Instagram)

Oi amigos, cá estou novamente, e lá vamos nós para mais um assunto polêmico: O COMERCIAL DA NATURA. - CONTÉM IRONIA - Sabemos que estamos em um país super desenvolvido, sem desigualdade social, com distribuição de renda igualitária, pleno emprego e educação de primeira, então por isso já podemos deixar de nos preocupar com os problemas sociais e passar a nos debruçarmos sobre campanhas publicitárias de empresas privadas.

A campanha do dia dos pais da Natura possui como tema “MEU PAI PRESENTE” e está sendo estrelada pelo ator transexual e PAI Thammy Miranda. Mas o que chamou atenção? O fato de 5,5 milhões de crianças no Brasil não terem sido registradas pelos seus pais? Ou então os milhares de homens héteros, cis e viris que não pagam as pensões em dia? Será que o comercial sensibilizou aqueles pais que não estão presentes no cotidiano dos filhos? Não. O que causou toda essa comoção nas redes sociais foi o fato dele ter sido estrelado justamente por um ator transexual. Em questão de minutos as redes sociais foram contaminadas com uma chuva de ódio vinda de setores conservadores da sociedade, os quais alegavam que Thammy não é homem, e por isso não poderia ser pai, alegaram que a masculinidade estaria sendo prejudicada bem como o papel da paternidade, iniciaram uma campanha de boicote à Natura, entre outras bizarrices.

Em primeiro lugar é importante ressaltar que, se o Thammy se considera homem, nem eu, nem você, nem ninguém tem o direito de subjuga-lo, afinal, identidade de gênero é algo pessoal  e ninguém tem que ficar dando pitaco, “a Edu mas a minha religião não aceita” pois bem, se a sua religião não aceita guarde para você, ninguém é obrigado a viver sob as condições da sua religião, aliás, nem sempre a opinião religiosa pode ser levada em consideração, pois, se assim fosse, o planeta Terra ainda seria o centro do universo e o sol giraria ao nosso redor.

Dito isso, é preciso refletir sobre a SUA paternidade. Você já parou e se perguntou se você é um bom pai? Se seus filhos te amam? Qual foi a última vez que você conversou com seu filho? Brincou, assistiu desenho, ajudou com as tarefas escolares, qual foi a última vez que você exerceu sua paternidade? Julgar a paternidade de Thammy é muito fácil, afinal, somos sempre muito bons como juízes, mas a situação muda quando estamos no banco dos réus.

Você pode não considerar Thammy como PAI, mas será que aquele seu parceiro de rolê, que paga R$ 150,00 de pensão e visita o filho uma vez por mês para tirar fotos para o Instagram está cumprindo com o seu papel? Ou será que aquele seu amigo que não registrou o filho por “não estar preparado” está sendo um bom pai?

Os arranjos familiares no Brasil há tempos deixaram de ser papai, mamãe e filhos. Em muitas das famílias corajosas mães exercem não só sua maternidade, mas como a paternidade também, ou então as avós como mãe e pai. Não somos um modelo de sociedade em que as famílias possuem um “perfil tradicional”, até porque, o número de crianças esperando uma família na fila de adoção não me deixa mentir sobre isso.

Agora, juntando todos os fatores até aqui, você acha mesmo que o problema da paternidade é um comercial de tv? Que aliás, diga-se de passagem, os pais são ativos na vida dos filhos que o comercial busca promover justamente a PRESENÇA DO PAI COMO PRESENTE.

Pessoas transexuais habitam na imaginação fetichista de heterossexuais, haja vista que boa parte dos clientes de garotas de programas trans são homens héteros, casados e pais de família. Nesse sentido, trans servem para -no sigilo- satisfazer os desejos mais diversos destes homens, mas não podem serem pais ou mães, por ser um atentado contra as normas da família tradicional.  O Brasil é o país que mais mata transexuais no mundo, simplesmente por ódio, ver Thammy como pai em um comercial representa um avanço na representatividade dessa causa, que, antes de lutar por espaço na sociedade, luta pelo direito de sobreviver.

Por falar em ódio, em maldade, a filósofa Hannah Arendt bem conceituou sobre a banalidade do mal, segundo a autora, o bem exige profundidade, motivação, vontade para ser exercido, já o mal não, ele pode ser praticado sem grandes motivações, e aparentemente para ser maldoso em 2020 basta um celular com acesso à internet e uma conta no Facebook.

Se você acredita que a sua paternidade, ou qualquer outra possa ter sido afetada pelo comercial da Natura, é um sinal de que algo está errado, e não estou falando da peça publicitária. Se sua família foi afetada por algo tão natural quanto um comercial, sugiro que você procure um terapeuta familiar, e de forma urgente!

Essa idiocracia conservadora (burrice generalizada) não vai nos levar a lugar nenhum, quer espalhar a fé cristã para o mundo? Pois espalhe essa parte aqui ó “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”. Tenha amor, respeito e tolerância pelo seu próximo, independente de quem seja, independente do papel familiar que exerça, se essa pandemia nos ensinou algo, foi que nossa humanidade e mortalidade é tão frágil e passageira, não deixe o ódio tomar conta da sua vida.

O comercial usa como música de fundo a música velha infância, dos Tribalistas. Deixo aqui um trecho da música oração, da cantora Linn da Quebrada como finalização para essa coluna, um abraço enorme, viva todo tipo de paternidade, viva todo tipo de amor, viva as famílias brasileiras!

Se homens se amam
Ciúmes se hímen se unem

A quem costumeiramente ama
A mente ama também
A mente ama também

Não queimem as bruxas
Não queimem
Não queimem as bruxas mas que amem as bixas mas que amem
Clamem que amem, que amem

Não queimem as bruxas mas que amem as bixas mas que amem
Que amem, clamem, que amem
Não queimem as bruxas mas que amem as bixas mas que amem
Que amem, clamem, que amem
Que amem
Que amem as travas também
Oh oh (amem as travas também)

Linn da Quebrada. Oração.

Link: https://www.youtube.com/watch?v=y5rY2N1XuLI

Este texto é de responsabilidade do autor/da autora e não reflete necessariamente a opinião do Matéria Pública.


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